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A IA vai mudar totalmente a maneira como os fundos de VC escolhem e fazem seus investimentos Adicionado em 02/10/2023
 
O mercado de venture capital na América Latina atravessa um momento de transição. Se, por um lado, os efeitos da grande crise de 2022 ainda se fazem sentir, já existem alguns sinais que apontam para uma recuperação. É nisso que acredita Hernan Kazah, um dos criadores do fundo argentino Kaszek Ventures, ao lado de Nicolas Szekasy.

“Estou muito otimista. Acredito que estamos prestes a viver um grande ciclo”, disse Kazah, em entrevista concedida à Época NEGÓCIOS durante o Vamos Latam Summit, realizado no Transamerica Expo Center, em São Paulo. “Todos os grandes ciclos começam com uma crise. Quando o mercado está mais seco e há menos capital disponível, é quando encontramos os melhores empreendedores”, afirma.

A região passa por uma queda no volume de investimentos desde o segundo trimestre de 2021 - quando houve um pico de US$ 5,4 bilhões investidos, segundo dados da plataforma Distrito. Na comparação entre o segundo trimestre de 2021 com o segundo trimestre de 2023, houve uma queda de 84,7% no volume de investimentos e de 50,8% no número de rodadas.

Esse cenário não impediu que o Kaszek anunciasse, em abril deste ano, um novo aporte no continente. No total, serão investidos US$ 975 milhões: US$ 540 milhões em startups early stage e US$ 435 em empresas mais maduras – algumas delas já investidas pelo fundo, que tem em seu portfólio nomes como Nubank, Quinto Andar, NotCo e Creditas.

Será que o país ainda vai viver uma nova era de unicórnios? “Não dá para afirmar”, diz Kazah. “Seja como for, esse é um marcador artificial, que não diz muita coisa. Mas acredito que, nos próximos cinco anos, veremos o surgimento dos novos líderes de tecnologia do país. São aqueles que sobreviveram à crise, consolidaram seus modelos de negócios, solidificaram a cultura e cresceram de maneira sustentável. E alguns deles, claro, serão fundadores de unicórnios.”

Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

ÉPOCA NEGÓCIOS Em abril, a Kaszek anunciou dois novos fundos para a América Latina. Como você vê esse novo ciclo que está começando agora, no segundo semestre de 2023?

HERNAN KAZAH Acredito que este será um ótimo ciclo. Se observarmos o que acontece há história da indústria de tecnologia, os grandes ciclos geralmente começam com uma crise. Quando o mercado está mais seco e há menos capital disponível, é quando encontramos os melhores empreendedores, aqueles que estão mais comprometidos com o que desejam desenvolver. Além disso, os planos de negócios que eles desenvolvem durante esses tempos mais difíceis são mais cuidadosos no que se refere ao uso de capital. Eles tendem a focar mais em economia de escala e em ter margens positivas. Em relação às valuations, os empreendedores tendem a ser mais razoáveis. Este também será um grande ciclo porque os empreendedores que conseguirem capital terão menos concorrência. E, além de tudo isso, estou otimista porque esse será o primeiro grande ciclo com inteligência artificial.

Como a IA vai afetar os investimentos, na sua opinião?

A tecnologia irá forjar uma nova realidade para todos. Vamos atingir um benchmark totalmente diferente em termos de produtividade, taxas de conversão e capacidade de alavancar a receita das empresas. Então, será uma época fantástica para investir em qualquer lugar, mas especialmente na América Latina. Veja bem, vivemos um momento em que o ecossistema está bastante robusto. Temos ótimos empreendedores, investidores capazes de apoiar as empresas e usuários ávidos por novidades. Hoje, se você tem um produto que se encaixa no mercado e o modelo de negócios certo, pode criar um negócio sustentável com muito mais facilidade do que há 5 ou 10 anos atrás.

Você acha que empresas, investidores e fundadores estão mais maduros por causa da crise de 2022?

Voltando um pouco atrás, tivemos a pandemia começando em março de 2020, o que assustou muito a todos. Mas logo vimos os números subir e passamos a acreditar que a tecnologia seria capaz de resolver todos os problemas que a covid estava causando. Além disso, os bancos centrais começaram a baixar as taxas de juros e injetar muito dinheiro nos mercados para garantir que não houvesse recessão ou que a recessão fosse leve. Então, tudo isso combinado criou um excesso de capital indo para as indústrias de tecnologia e para os fundos de venture capital. E isso construiu um mercado muito agressivo. Quando você entra em um ciclo de alta, passa a acreditar que o fracasso não é possível. Então talvez os investidores não tenham sido os mais disciplinados na hora de aportar o capital. E as empresas também não foram muito disciplinadas, porque, em vez de se concentrarem na essência da empresa, começaram a atirar para todos os lados.

Durante esse período de excessos, três coisas aconteceram. Uma foi que as valuations acabaram sendo um pouco otimistas demais, como se nada pudesse dar errado. Em segundo lugar, havia muitos “investidores turistas”, pessoas que estavam aportando na região ou no setor pela primeira vez, e colocando condições que não seriam ideais no longo prazo. E, nesta indústria, a primeira coisa que você precisa saber é que será a longo prazo, certo? Tudo leva tempo. Inovação leva tempo. Mesmo as empresas mais bem-sucedidas e inovadoras levaram tempo para decolar. E você precisa estar lá para apoiar as boas empresas ao longo do tempo, até que realmente possam decolar. Os investidores de primeira viagem não estavam dispostos a fazer isso. Além disso, também havia empreendedores de ocasião, que não estavam muito convencidos sobre o que queriam fazer. Mas, como havia muito dinheiro no mercado, lançavam uma ideia e torciam para receber um cheque.

Bom, hoje tudo isso desapareceu. Em primeiro lugar, as valuations estão mais justas. Ainda há capital disponível na região, mas não de investidores turistas, esses foram embora. O mesmo vale para os empreendedores. Hoje eles estão muito mais comprometidos com o que querem fazer, mais convencidos sobre o problema que desejam resolver. Então temos menos empreendedores, mas melhores, porque são mais focados, mais sensíveis às variações da economia, mais preocupados em conseguir margens positivas. Além disso, são mais cautelosos com o dinheiro, porque sabem que o capital será limitado. Nesse cenário, a popularização da IA deixou tudo ainda mais interessante.

Dentro da IA, em que tipo de empresas vocês pretendem investir?

Existem duas maneiras de investir em IA. Uma delas é fazer aportes em empresas que tem como foco desenvolver uma ferramenta de IA. A princípio, não estamos procurando esse tipo de empresa. Mas eventualmente pode haver uma que nos agrade e esteja focada na tecnologia. A outra maneira é mais interessante para nós. Daqui para a frente, todas as empresas usarão IA em seus processos, certo? Para ganhar eficiência, reduzir custos, aumentar a conversão de clientes e melhorar o engajamento. E isso vai acontecer em todos os setores. Essa será a grande revolução.

Para ter uma ideia, basta lembrar do surgimento da internet móvel, em xxx. Parte das empresas que se deram muito bem na época foram as fabricantes de hardware ou aquelas que estavam desenvolvendo as ferramentas essenciais para que a internet móvel acontecesse. Mas, na sequência, todos os outros setores se beneficiaram do fato de que a internet móvel estava disponível, o que tornou a penetração de seus produtos e serviços muito maior. Então, é isso que estamos vendo acontecer com a IA, só que em uma escala muito maior.

Todos falam na revolução provocada pela IA. Na sua visão, já estamos vivendo isso, ou ainda levará tempo até que a tecnologia atinja seu impacto máximo?

De certa maneira, já está acontecendo. Mas estamos bem no começo. Veja bem, quando falamos de inovação, o que acontece é que as etapas geralmente levam muito mais tempo do que você imaginava. Ao mesmo tempo, o impacto também costuma ser muito maior do que você havia pensado. Então a decolagem é mais lenta, mas os voos também são mais altos do que conseguimos prever. Daqui a cinco anos, vamos olhar para tudo o que está sendo escrito sobre o uso da IA pelas empresas e veremos que é ridículo. Porque, em cinco anos, a realidade será totalmente diferente, e o impacto será dez, vinte vezes maior do que estamos pensando. Então, por um lado, já estamos vendo os impactos diretos da IA. Mas a grande transformação será muito mais significativa do que qualquer coisa que possamos afirmar hoje.

Você disse em uma entrevista que, durante todo esse tempo, sua percepção dos investidores sobre a América Latina nunca mudou. Quais são os pontos fortes da região, e do Brasil em particular?

Se você olhar para as métricas operacionais, aquelas empresas que vendem produtos e serviços digitais continuaram crescendo – mesmo que o seu valor de mercado tenha sido reduzido pela metade. Não vimos o uso da tecnologia entre os usuários diminuir. Pelo contrário, está constantemente aumentando. Outro argumento se refere ao tanho do problema que as startups resolvem por aqui. Veja o caso do Nubank, por exemplo. O Nubank poderia funcionar nos EUA? Com certeza. Mas os bancos americanos são mais competitivos, têm taxas mais baixas e melhores serviços. Então, não haveria por lá a grande lacuna que eles estão preenchendo por aqui. O mesmo é verdade para empresas de educação e saúde, porque nossas necessidades são muito maiores.

Outro fator importante é que agora o mundo está olhando muito atentamente para a América Latina. Somos uma região que produz commodities valiosas, que estão em alta demanda. Então somos uma alternativa como fornecedores de certas matérias-primas.

Uma alternativa à China e à Índia, em menor escala.

Exatamente. Outro ponto é que, como fomos os primeiros a aumentar as taxas de juros durante a pandemia, também seremos os primeiros a baixá-las, o que pode gerar uma tração extra nas economias locais. Então, sim, estou bem otimista.

Em quais setores a Kaszek está mais focada? Ainda são fintechs e marketplaces?

As fintechs continuarão sendo uma grande aposta, talvez mais agora no B2B do que no B2C: mais aportes em empresas de infraestrutura, com soluções que ajudem o sistema financeiro a ser mais eficiente. Outra área de atenção são as climatechs, ou startups voltadas ao meio ambiente. Acredito que a tecnologia é a melhor solução para vencer o desafio das mudanças climáticas, então uma parte significativa do fundo irá para essas oportunidades. Também vamos apostar na educação e na saúde, porque acreditamos que as novas ferramentas serão capazes de reduzir as desigualdades, possibilitando uma boa educação e um ótimo atendimento médico, seja qual for a região onde você mora, seja qual for a sua condição econômica. Fora isso, vamos ouvir os empreendedores, porque eles vão nos dizer onde estão as oportunidades, e o que está pronto para decolar.

Fonte: Época Negócios


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