De uma fazenda de bananas a uma das principais exportadoras de óleo combustível marítimo. Essa é a história da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, a primeira grande produtora de combustíveis criada no Brasil, que completou 70 anos ontem e está prestes a se tornar a primeira unidade de refino da Petrobras a passar para o controle da iniciativa privada.
A refinaria é importante para o desempenho das vendas da estatal hoje porque a unidade é responsável por cerca de 30% da produção total de óleo combustível no país, incluindo o chamado bunker, cujo preço está em alta no mercado externo.
A Petrobras está em fase final de negociações com o Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi, para fechar um negócio que poderá render cerca de US$ 4,5 bilhões aos cofres da companhia, de acordo com fontes envolvidas nas conversas.
Mas o fundo árabe não está sozinho na aquisição da segunda maior refinaria do país, que só perde em capacidade para a de Paulínia (SP). Tem como principal parceiro a empresa espanhola Cepsa, que deve cuidar da parte operacional da refinaria, se o negócio for de fato fechado.
Analistas acreditam que o negócio bilionário pode ser assinado entre o fim deste ano (estimam os mais otimistas), e o primeiro trimestre de 2021 (preferem os mais realistas).
Esse processo depende de um capítulo especial que começa a ter um desfecho hoje, quando está marcado no Supremo Tribunal Federal (STF) o início do julgamento do pedido feito pelo Congresso para impedir a venda de refinarias pela Petrobras sem autorização do Legislativo.
Localização estratégica
A Rlam tem capacidade para processar 323 mil barris de petróleo por dia. É a principal fornecedora de combustível para navios, inclusive para a exportação. Sua localização é considerada estratégica, próxima ao terminal marítimo Madre de Deus e bem perto do Polo Petroquímico de Camaçari, no Recôncavo Baiano, o que valoriza o empreendimento, segundo especialistas.
"A Rlam tem um papel estratégico, pois abastece um dos mercados mais importantes do país, que é a Bahia, e ainda é um importante ponto de distribuição no Nordeste. Como fica perto do mar, consegue atender, via cabotagem, outros locais. E uma refinaria só tem valor se tiver uma logística otimizada " disse Magda Chambriard, ex-diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e professora da Fundação Getulio Vargas (FGV).
A Rlam tem hoje papel importante nas exportações de bunker da Petrobras. Segundo dados da ANP, a produção total desse tipo de combustível na estatal, de janeiro a junho deste ano, foi de 25,8 milhões de barris equivalentes, dos quais 5,5 milhões foram produzidos na refinaria baiana.
De acordo com Rodrigo Leão, coordenador-geral do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), a Rlam é responsável por algo entre 25% e 30% da produção total de óleo bunker da Petrobras.
A Petrobras tem elevado as vendas desse tipo de combustível por ter um produto com baixo teor de enxofre.
Esse óleo marítimo vem sendo bastante procurado no mercado internacional desde a entrada em vigor, em janeiro, da norma da Organização Marítima Internacional (IMO, sigla em inglês) que reduziu de 3,5% para 0,5% o limite de enxofre nesse combustível.
O economista do Ineep avalia que, ao vender a Rlam, a Petrobras vai abrir mão de parte desse mercado.
O Ineep é ligado à Federação Única dos Petroleiros (FUP), entidade sindical que tem se posicionado contra a venda de ativos da Petrobras, como as refinarias.
" Com a venda da Rlam, a Petrobras está abrindo mão de um mercado que justamente está aquecido hoje " destacou Rodrigo Leão.
Felipe Perez, diretor de Downstream (refino) da consultoria internacional IHS Markit, discorda:
" No curto prazo, a Petrobras tem uma pequena perda, mas, no longo prazo estará melhor posicionada com refinarias que têm alta conversão e produzem muito pouco óleo combustível " afirmou Perez.
A Petrobras informou que quase todas as refinarias da companhia podem produzir bunker e que a estatal tem condições de elevar a produção nas outras unidades sem necessidade de investimentos adicionais.