As startups de serviços financeiros, chamadas de fintechs,
estão entre as que mais crescem no Brasil. Em um setor burocratizado e marcado
pela alta regulação, ganham cada vez mais espaço empresas que têm modernizado o
setor, unindo forças com grandes players e causando grande impacto no mercado.
Não à toa, ao longo de 2019 a área atraiu US$ 910 milhões em aportes, 35% dos
incentivos em venture capital no Brasil
contabilizados no período.
Os dados são da segunda edição do Distrito Fintech Report,
levantamento realizado pelo Distrito, empresa de inovação aberta que atua junto
a startups, que também mapeou o número de empresas deste segmento no país: 742
startups.
O primeiro estudo sobre fintechs, feito em 2019, já apontava
o setor como carro-chefe do ecossistema de startups no Brasil, com 553
empresas. Nesta nova edição, o levantamento consolidou o apontamento ao
registrar um crescimento de 34,1%. Vale destacar, entretanto, que tal variação
não pode ser considerada apenas como um crescimento do setor durante o período,
uma vez que diz respeito também a uma maior capacidade do Distrito em
localizá-las. Entre as já identificadas no ano passado, 42 deixaram de operar,
número que representa uma taxa de mortalidade de 5,7%.
Segundo o estudo, quase metade das fintechs brasileiras
(49,6%) nasceram entre 2016 e 2019. Divididas em 14 categorias distintas, as
três com maior representatividade são as de Meios de Pagamento (16,4%),
considerando aqui serviços, produtos e tecnologias para a facilitação e o
processamento de pagamentos; Crédito (15,8%), sistemas de oferta e concessão de
crédito com base tecnologia; e Backoffice (15,1%), formado por fintechs que desenvolvem
softwares e serviços para gerenciar a vida financeira de empresas.
“Ao longo dos últimos anos, ouvimos uma série de previsões
sobre a sustentabilidade das fintechs. Chegamos em 2020 e podemos observar que
essas startups não foram engolidas pelas empresas ou mesmo por grandes bancos.
Pelo contrário, temos visto uma aproximação cada vez maior desses players, seja
por programas de aceleração, parcerias ou mesmo contratações”, afirma Tiago
Ávila, líder do Distrito Dataminer, braço do Distrito responsável pela
elaboração de estudos do universo de startups. “Este ecossistema tem
amadurecido e nossa expectativa é que esse movimento cresça ainda mais nos
próximos anos”, completa.
Onde estão?
A região Sudeste é a que mais concentra startups do setor
financeiro: são 70% delas frente a 20% no Sul; 5,4% no Nordeste; 3,6% no
Centro-Oeste; e apenas 0,7% no Norte do País. Com o maior polo de startups do
Brasil, São Paulo também detém mais da metade das fintechs, com 53,6%. Em
seguida temos Rio de Janeiro, com 7,8%; e Minas Gerais, com 7,6%.
Tamanho
Mais de 40 mil pessoas trabalham em startups do setor
financeiro no país. Aqui, a categoria com maior destaque também é a de Meio de
Pagamento, que emprega cerca de 35% dos profissionais deste mercado. Cerca de
dois terços das empresas mapeadas, entretanto, são de pequeno porte e possuem
até 20 funcionários.
Público-alvo
Acompanhando o cenário do mercado brasileiro de inovação, as
fintechs possuem preferência por modelos de negócio que atendem outras
empresas: 55,8% delas atuam no mercado B2B (Business to Business). Na
sequência, 28,4% atendem o público B2C; 10,8% atendem os dois públicos B2B e
B2C; e 5% integram o novo conceito de B2B2C, chegando ao consumidor final por
meio de outras empresas.
Perfil dos sócios
As fintechs no Brasil costumam ter de dois a três sócios
(média de 2,4), sendo 88% do gênero masculino e apenas 12% do gênero feminino,
com média de idade 39,4 anos. O quadro societário das empresas é composto por
pessoas de quase todo o Brasil. A grande maioria é de paulistas (49,5%),
seguido por fluminenses (10,2%) e mineiros (9,1%).
Top 10 entre as fitnechs
O Distrito Fintech Report apontou ainda as 10 startups que
mais se destacam no setor, tomando como parâmetro dados de número de
funcionários, faturamento presumido, investimentos captados e métricas de redes
sociais. São elas: Nubank, Ebanxs, Stone, PagSeguro, Neon, C6 Bank, PicPay,
Creditas e Weel.
Fique de olho
O estudo destaca ainda uma relação de startups que têm
apresentado um ritmo de crescimento acelerado, a partir da combinação dos
aportes recebidos e da visibilidade que têm nas redes sociais. São elas Rebel,
Olivia, Warren, Geru, Vindi, Pagar.me, Bcredi, BizCapital, idwall, Konduto,
SmartMEI e Bom Pra Crédito.
Tendências para o setor
Entre todos os avanços tecnológicos e novas formas de pensar
que se propõem mudar o setor financeiro, algumas têm recebido atenção especial
de startups, grandes empresas e instituições que se interessam pelo tema. No
estudo elaborado pelo Distrito, ganharam destaque quatro delas:
Open Banking: sistema de compartilhamento de dados que deve
ser implementado pelo Banco Central ainda em 2020;
Pagamentos Instantâneos: que deve facilitar transações
financeiras entre instituições e também entre pessoas físicas, com rapidez e
baixas taxas, eliminando toda necessidade de dinheiro em espécie ou ferramentas
de transação como TED ou DOCs;
Fintech As A Service: tecnologias e estruturas white label
que permitem que empresas do setor financeiro ou até mesmo de outros setores
ofereçam serviços incorporados;
Invisible Bank: conceito que trata de um futuro em que o
sistema bancário ficará completamente invisível para os consumidores depois de
conectado a plataformas que servirão de ferramentas intermediárias a transações
financeiras, sem que o usuário precise usar dinheiro, cartão ou qualquer dado
bancário.
“Os maiores beneficiados pela evolução das fintechs, sem
dúvida alguma, serão os consumidores. Com a descentralização dos dados, haverá
espaço para novos produtos e isto gerará uma corrida por melhores serviços e
menores taxas, de modo a garantir uma experiência mais intuitiva e prazerosa
para o cliente”, afirma Ávila.