"Na Volpe, reduzimos nosso ritmo de investimento desde outubro de 2021, porque estávamos preocupados com excessos em termos de capital levantado e valuation das empresas. Percebemos que o grande fluxo de dinheiro que estava sendo aportado nas startups estava gerando uma obrigação de que essas empresas crescessem a qualquer custo, sem se preocupar com eficiência operacional e financeira. Esse crescimento acelerado deixou muitas empresas expostas e com pouca margem de manobra em meio a uma contração monetária global que se avizinhava.
Tivemos muita dificuldade de nos convencermos de que a nossa tese estava correta em meio aos aportes cada vez maiores no período. A partir de janeiro de 2022 o mercado passou a ficar mais seletivo, focando em empresas mais eficientes e lucrativas. A partir de agora, o comportamento dos fundos deve mudar e teremos menos deals, mas com operações muito mais saudáveis e rentáveis. A tendência é que o ticket médio dos aportes também fique mais tímido.
Os próximos dois anos serão muito duros para o mercado de VC. Só sobreviverá quem estiver focado em eficiência. Algumas empresas precisarão passar por um processo de consolidação para prosseguir, o que é bom para a indústria de uma forma geral. Já as empresas que sempre estiveram focadas na geração de caixa e em pagar suas próprias contas não vão ter problemas para passar por essa fase de aperto. Quem chegar do outro lado não será apenas sobrevivente, mas potencialmente será líder de categoria.
André Maciel, fundador e CEO da Volpe Capital, fundo de venture capital focado em empresas de tecnologia na América Latina.