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Notícias ABVCAP

“Precisamos criar um ambiente de oportunidades que atenda a todos os jovens”, diz Gustavo Heidrich Adicionado em 12/07/2021
 
Oficial da UNICEF no Brasil fala sobre parceria com ABVCAP para contratação de jovens e afirma que não se pode tratar os desiguais com igualdade

Em maio, o Comitê Brasil 2030 da ABVCAP lançou a campanha “Contrate um Jovem e Transforme o País”, com o objetivo de mobilizar gestoras para incentivar a contratação e capacitação de jovens entre 14 e 24 anos em situação de vulnerabilidade. A iniciativa foi elaborada com apoio do PRI (Principles for Responsible Investment), do Pacto Global e da iniciativa Um Milhão de Oportunidades (1MiO).

Para Gustavo Heidrich, oficial da UNICEF que atua na coordenação do 1MiO no Brasil, é essencial que o setor privado, o governo e a sociedade civil trabalhem juntos para fomentar a inclusão produtiva jovem, ou seja, oferecer condições para que o jovem possa se inserir no mercado de trabalho, crescer como profissional e conquistar sua própria renda.

“A iniciativa Um Milhão de Oportunidades (1MiO) faz parte do programa global Generation Unlimited (GenU) das Nações Unidas que tem como objetivo gerar oportunidades de acesso à educação de qualidade, inclusão digital, formação profissional e vagas de trabalho decente para jovens em situação de vulnerabilidade em todo Brasil”, diz Heidrich. “O UNICEF tem como missão principal a garantia de direitos de crianças e adolescentes e vem fomentando essa agenda desde a década de 50 no Brasil. Agora, com o 1MiO, nos unimos a outras instâncias do sistema ONU, como a Organizacão Internacional do Trabalho (OIT), o Pacto Global e diversos parceiros do setor privado, governos e sociedade civil para fomentar o acesso ao mundo do trabalho pelos jovens.” 

A iniciativa é focada na oferta do primeiro emprego para os jovens. “Nós buscamos principalmente as oportunidades de jovem aprendiz, o estágio e o emprego formal nos cargos mais comuns de entrada”, afirma. “Olhamos especialmente para o que chamamos do processo de inclusão produtiva na perspectiva da garantia de direitos, em que a abertura da vaga é o primeiro passo. As empresas precisam se comprometer em retirar os vieses da seleção que impedem o acesso dos mais vulneráveis, ter processos consolidados de acolhimento, formação e mentoria, oferecer possibilidades reais de desenvolvimento de carreira e apoio nos casos de violência e violação de direitos.”

Confira alguns trechos da entrevista.

Qual é a importância deste primeiro emprego e quais são os principais entraves que eles encontram nesta busca?

A maioria dos jovens brasileiros vem de um histórico de desigualdade e falta de oportunidade desde a primeira infância, com os direitos básicos negados como alimentação, educação, moradia, saneamento... portanto não podemos esperar que eles venham prontos.

A potência deles é enorme, de criatividade, inovação, vontade, mas o setor produtivo precisa entender que é preciso ter um olhar desde o processo seletivo que retire as barreiras para que, sobretudo os mais vulneráveis,  possam acessar as oportunidades de trabalho.
Não adianta tratar os desiguais com igualdade. Cobrar inglês ou uma formação nas melhores universidades cria vieses seletivos que levam a contratar sempre o mesmo perfil, o do jovem que já tem oportunidades.

Os jovens em situação de vulnerabilidade precisam ter um ambiente de confiança dentro da empresa para falar de suas dificuldades, ter um apoio de mentoria, alguém que possa guiá-los, oportunidades de formação dentro do trabalho... é preciso que a empresa, e sobretudo as pessoas dentro da empresa, tenham um olhar generoso sobre eles. Pode ser que ele nunca tenha ido a um restaurante e se sinta envergonhado na hora que os colegas o convidam, ou não tenha uma roupa adequada para uma reunião. Tudo isso é parte de olhar para esse jovem como um sujeito de direitos.


Como inserir esse jovem de fato na empresa e garantir o seu desenvolvimento?

Existe uma frustração muito grande dos jovens nas empresas em relação, por exemplo, ao aprendiz. O jovem muitas vezes entra pela cota de aprendiz, pela obrigação da lei, é colocado numa atividade lateral dentro da empresa e ali não consegue se desenvolver. Não tem a sua potência aproveitada, e a empresa não investe nesse jovem.

Por isso que o nosso lema na iniciativa Um Milhão de Oportunidades é: abrir a vaga é só o primeiro passo. Nós trazemos a inclusão produtiva na perspectiva da garantia de direitos, com o jovem no centro do processo, sensibilizando as empresas para que olhem para a retirada de vieses do processo seletivo, a estruturação do acolhimento, mentoria e formação, o desenvolvimento da carreira e dos projetos de vida e o apoio nos casos de violência e violação de direitos. 

E o último ponto é fundamental. Como mencionei, a maioria da juventude brasileira sofre desde a infância um processo sistemático de violência e violação de direitos. Muitas vezes as violências, sejam físicas, psicológicas, sexuais ou outras, ficam invisibilizadas nesse processo de acesso ao mundo do trabalho e até são confundidas com falta de interesse e empenho do jovem que é vítima delas.  As empresas precisam olhar para isso com sensibilidade e saber como endereçar essas questões é fundamental.  Existem vários mecanismos, como a rede de Assistência Social, juizados e conselhos que podem atuar em parceria para dar o atendimento necessário a jovens que sofrem algum tipo de violência.


De que forma a parceria com a ABVCAP pode gerar resultados para a contratação de jovens?

Com a ABVCAP a gente consegue influenciar uma cadeia muito grande, mais de 800 empresas. Se conseguirmos levar esse compromisso com a inclusão produtiva jovem para as empresas que são investidas pelos fundos de venture capital e private equity, temos uma rede muito potente. Infelizmente, essa pauta ainda é muito prematura no setor empresarial brasileiro. Temos muito a avançar, tanto na perspectiva mais ampla do ESG, mas principalmente na questão da inclusão produtiva jovem. É muito importante que uma associação que reúne tantas empresas esteja abraçando essa causa e possamos exercer essa influência positiva no setor produtivo.


Na prática, qual é o papel das empresas para potencializar a carreira dos jovens? O que elas precisam ter como princípios para que o processo de inclusão funcione?

As empresas e, principalmente as pessoas, do CEO ao analista, precisam abraçar a causa. Existe uma expectativa de que o jovem vá chegar pronto para o trabalho, já com as habilidades e competências, e tudo isso que falamos, do olhar generoso sobre um jovem que é vítima de um profundo e histórico processo de desigualdade de oportunidades e violação de direitos, estrutural no Brasil, fica de lado.  

Fazer a inclusão produtiva jovem na prática, dando oportunidade sobretudo para aqueles que mais precisam, significa desenvolver uma cultura organizacional que enfrente o racismo estrutural, o machismo, o preconceito de classe e tantos outros que ainda permeiam profundamente o ambiente empresarial brasileiro. É rever isso em nível coletivo, mas também individual, diariamente e de forma consistente, para além do marketing.

Não basta anunciar uma vaga para um jovem em situação vulnerável e esperar que tudo vá ocorrer naturalmente.

É um processo que demora, exige empenho e disponibilidade e novamente, não medir os desiguais pela mesma régua. É entender que abrir uma porta para um jovem em situação de vulnerabilidade é estar disposto a mudar a si próprio. 


Fonte: Abvcap News - Julho 2021


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