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"Futuro do Private Equity é unir retorno a propósito", diz Luciana Ribeiro Adicionado em 25/03/2021
 
Cofundadora da EB Capital vê com bons olhos emergência da pauta ESG nos investimentos, mas alerta que o Brasil precisa sair do discurso para a prática.

A ascenção da pauta ESG (Environmental, Social and Governance, ou ambiental, social e governança) fomenta o debate sobre diversidade social e sustentabilidade ambiental, mas o Brasil precisa transformar, rapidamente, discurso em prática. Esta é avaliação de Luciana Ribeiro, cofundadora da EB Capital. "Precisamos de um volume de ações muitíssimo maior para que tenhamos, de fato, condições de reduzir a desigualdade, aumentar a prosperidade, entender o papel do Brasil na discussão ambiental", disse, em entrevista à ABVCAP.

Preocupada com os rumos que o país estava adotando na área sócio-ambiental e com o distanciamento para cumprir as metas definidas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, a executiva propôs à ABVCAP no fim de 2019 um grupo para discutir o papel do capital privado, especialmente do private equity e do venture capital, na construção do futuro do país nos dez anos seguintes. O comitê que hoje a executiva coordena foi batizado de “ Brasil 2030" e tem como missão fomentar uma indústria de investimentos que seja lucrativa e, ao mesmo tempo, ofereça soluções aos gargalos estruturais do país. "O futuro do private equity e de investimentos privados de maneira geral é unir retorno a propósito”, defende. Mulheres e millennials, nascidos em meados da década de 1980, têm um papel fundamental nesse processo, acrescenta.

Sócia de três executivos homens (Eduardo Sirotsky, Pedro Parente e Fernando Iunes), a advogada acredita que o debate sobre equidade de gênero tangencia outras questões relacionadas à pauta ESG. Na EB Capital, ela conta que metade do corpo de funcionários é composto por mulheres, e que há um olhar permanente para a contratação e retenção de times diversos. "Se deixamos as coisas acontecerem tradicionalmente, e ficarmos na expectativa de que algo mude, independentemente de um esforço coletivo, nada muda.” Leia trechos da entrevista.

Além de você, “quão feminina” é a EB Capital?

Na EB Capital temos cerca de 50% do time composto por mulheres. Começa com o fato de eu, cofundadora, ser mulher e me preocupar com essa demanda. Trouxemos para a equipe outras mulheres em posições de liderança e também analistas e estagiárias, por exemplo. Temos um olhar ativo para formar um quadro de funcionários diverso, a começar pelo processo de seleção. E contratamos mulheres, e não por serem mulheres, exclusivamente, mas por serem competentes.


Que outras mudanças ativas você defende para uma maior igualdade entre homens e mulheres na indústria de investimentos?

No caso das mulheres, um exemplo são políticas que contemplem a ideia de maternidade continuada, com flexibilidade de horários e entendimento de que não é algo que resume a seis meses de amamentação, mas algo permanente. É preciso "colocar o sapato do outro" para entender suas reais dificuldades, inclusive quando pensamos em viabilidade de acesso e permanência e crescimento no emprego. É uma responsabilidade sobretudo da sociedade civil e de empresas entender o valor da diversidade e flexibilizar políticas que sejam adaptadas à realidade das mulheres.

Adicionalmente, é fundamental fomentar o networking. Muitas contratações neste ambiente acontecem por indicações. Muito parecido com o que acontecia no ambiente dos Conselhos de Administração. Neste sentido, a iniciativa do Women Corporate Directors (WCD) é um grande exemplo. O WCD apoia mulheres na sua capacitação para conselhos de administração, mas especialmente cria o networking necessário e provoca o oferecimento de vagas a este grupo superfeminino e superqualificado.


Como avalia a representatividade das mulheres nos mercados brasileiros de Private Equity e Venture Capital?

São muito subrepresentadas. Temos poucas mulheres em posições de liderança e em processos de investimentos de maneira geral, tanto em private equity como em venture capital. São mundos tradicionalmente masculinos. Na outra ponta, das empresas investidas, também há pouca presença feminina. Evoluímos nos últimos anos, mas ainda somos pouco representadas. E esta é a realidade tanto aqui como em outros países, infelizmente.


Quais são os principais desafios ou entraves para melhorar esse diagnóstico?

Um dos principais problemas é a falta de exemplos concretos. Temos poucas mulheres líderes do setor e a falta de um "se enxergar" nessa carreira acaba afastando novas mulheres da atividade. A mudança precisa se dar com ações ativas. Se deixamos as coisas acontecerem tradicionalmente, e ficarmos na expectativa de que algo mude, independentemente de um esforço coletivo, nada muda.


Do ponto de vista da estratégia de negócio, como estimular a igualdade?

Um tema caro à EB Capital é ter no mesmo grau de relevância retorno e propósito. É fundamental ter retorno de private equity mainstream, mas nossos investimentos estão intimamente vinculados em também gerar impactos positivos à sociedade e ao planeta. Isso vai muito além do ESG. É sobre trazer para o centro das nossas atividades e investimentos a transformação, a solução de lacunas estruturais como algo fundamental. O tema de propósito, de um capitalismo regenerativo, tem sido defendido como prioridade especialmente por millenials e mulheres. O futuro do private equity e de investimentos privados de maneira geral é unir retorno a propósito. Jovens e mulheres têm muita relevância nessa discussão.


Por que a diversidade, inclusive de gênero, é importante quando pensamos na busca por soluções de falhas estruturais do país, que é a missão da EB Capital?

Resolver lacunas estruturais do país está intimamente veiculado à capacidade de operação e execução. A discussão passa pela criação, aumento e transformação de mercados. É fundamental a capacidade de enxergar por diferentes lentes, ter olhares distintos para a resolução de problemas. Em educação técnica focada em saúde, uma das lacunas estruturais do país, nossas alunas são majoritariamente mulheres e negras, por exemplo. Entender as dificuldades que este público tem é essencial para a melhor resolução dessa falha estrutural. Ter diversidade racial e de gênero neste ambiente é, portanto, fundamental. Ela traz resultados potencialmente melhores e ajuda a suprir pontos cegos de análise.


De que forma o comitê 2030, coordenado por você, está sintonizado em mudar o panorama de desigualdade, inclusive para as mulheres?

O comitê 2030 busca identificar de forma transversal oportunidades de atuação do private equity que sejam sintonizadas às transformações e demandas sociais. Oportunidades que gerem recursos e retornos que beneficiem a todos. Neste ano nosso foco é buscar ajudar a resolver o desemprego jovem, que alcança 37% entre pessoas com 14 e 24 anos. Esta é nossa pauta prioritária, sobretudo em tempos de pandemia, mas não é a única. O tema da diversidade está sempre presente e se aplica a vários temas.


A emergência da pauta ESG ajuda na discussão e implementação de medidas em prol da diversidade?

Ajuda, mas ainda precisamos alcançar volumes mais representativos de uma perspectiva concreta. Há bons cases de ESG em geral, mas faltam exemplos significativos em termos de dimensão do impacto. Precisamos de um volume de ações muitíssimo maior para que tenhamos, de fato, condições de reduzir a desigualdade, aumentar a prosperidade, entender o papel do Brasil na discussão ambiental, entre outros tópicos. É ótimo que o ESG já esteja no discurso, mas precisamos partir para a prática efetiva.


Está otimista em relação à conversão do discurso sobre igualdade e sustentabilidade em prática? Como vê o Brasil em 2030?

É inescapável atacar essa questão, sobretudo do ponto de vista ambiental. Chegamos em um ponto em que não é admissível que a situação atual seja a constante. Pelo amor ou pela dor, sairemos do discurso para a prática. O ESG tem que entrar de forma objetiva e relevante na pauta do país. O capital privado, a sociedade, os investidores, países com os quais nos relacionamos, todos clamam por isso. Como país, temos de nos posicionar de outra forma do ponto de vista social e ambiental. O custo de não mudar a rota, além dos impactos ambientais, é uma derrocada, um isolamento do quadro global. Temos de sair da posição de estar acuados para sermos protagonistas da mudança.


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