Este site usa cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência.

Esqueceu sua senha?

Notícias ABVCAP

“Não é a hora de ser oportunista, mas sim de cumprir o papel de impacto” Adicionado em 04/06/2020
 
No final de 2019, Carlos Miranda, fundador da gestora de fundos de private equity BR Opportunities, e Eduardo Grytz, da Performa Investimentos, anunciaram a criação da X8 Investimentos. A gestora atua no segmento de growth capital, o estágio intermediário entre venture capital e private equity, com 100% de seus investimentos voltados a negócios de impacto social, ambiental e econômico. Na bagagem, Miranda trazia o bem-sucedido investimento na Mãe Terra, vendida para a Unilever, em 2017, com um retorno alto para seus cotistas.

Os sócios montaram um escritório novo, contrataram uma equipe experiente que passou por um treinamento em Seattle no mês de fevereiro. Numa quinta-feira de março, Miranda juntou seu time e investidores para um jantar em sua casa para uma celebração da X8 Investimentos. No dia seguinte, as notícias sobre o avanço do coronavírus no Brasil fizeram com que boa parte das empresas, incluindo a gestora, mandassem seus funcionários trabalhar de casa.

Em entrevista ao site da ABVCAP, Carlos Miranda explica por que escolheu investir apenas em negócios de impacto, revela os caminhos de algumas de suas investidas na crise e analisa o que espera para a retomada da economia no Brasil:

De onde surgiu a ideia de criar a X8 Investimentos?

A gente fez um carve out da Performa com a BR Opportunities para focar em investimentos de impacto social, ambiental e econômico. Ambas tinham já experiências com esse tipo de negócio. Investimos em empresas de rápido crescimento, naquele estágio entre venture capital e private equity, o growth capital. Pessoalmente sempre quis fazer investimentos de impacto. Não apenas por uma questão de propósito, mas também por serem ativos bastante atraentes do ponto de vista de retorno. Comprovamos a tese no nosso primeiro fundo ao investir na Mãe Terra, empresas de produtos naturais, em 2013. Saímos em 2017 com 12 vezes o capital investido. Quando concluímos o ciclo desse fundo decidimos fazer um novo, 100% com foco em investimentos de empresas de impacto.


Em que pé vocês estavam no início da pandemia?

Mais de 90% da equipe que está no fundo trabalha junta há pelo menos nove anos. Criamos o nome para X8 Investimentos, montamos um escritório novo. Entramos para a rede global do Capria, que é um fundo de fundos com base em Seattle. Eles fazem investimento em gestoras de impacto e também tem um programa de aceleração. Você entra numa rede global de gestoras, o que se torna um bom caminho para ajudar na internacionalização das empresas investidas. Tínhamos feito todo o trabalho de capacitação da equipe em Seattle em fevereiro. Em março, tínhamos três empresas no pipeline para investir. Numa quinta-feira fizemos um jantar com investidores e com o pessoal do Capria na minha casa. Na sexta-feira começou o isolamento e as empresas passaram a adotar o regime de home office. Na segunda já estávamos todos trabalhando de casa.


Como você avalia o impacto da Covid-19 nos investimentos da X8?

Do ponto de vista pessoal, quando você pensa no lado humano, é óbvio que vem um sentimento de impacto negativo causado pelo isolamento e pelas mortes. No lado dos negócios, no entanto, decidimos não parar nenhuma das atividades. Os investimentos que estávamos próximos de fazer continuam no processo normal. Em mais uns 15 ou 20 dias deveremos fazer o anúncio de um primeiro. Os outros dois também estão em análise. Nenhum dos nossos investidores pediu para sair ou voltou atrás no compromisso.


Houve algum impacto direto da pandemia?

O que tivemos de diferente foi o surgimento de um programa de mentoria. A gente achou que teria umas duas horas livres por dia por conta de trabalhar de casa, o que se mostrou uma baita ilusão! De qualquer forma, envolvemos a nossa equipe nesse programa de mentoria voltada a empreendedores. Tínhamos uma equipe motivada e nada melhor do que devolver isso para as empresas, sobretudo num momento em que diversos empreendedores se vêem sozinhos e precisam tomar uma série de decisões difíceis. Tivemos 20 empreendedores selecionados. Tivemos até um excesso de voluntários para atuar em mentoria, quase 40. No fim, observamos ali também um canal para geração de oportunidades, com empresas que eventualmente investiremos no futuro.

Como é a interação entre empreendedores e mentores?

Fazemos uma primeira reunião virtual com cada empresa selecionada. Depois há uma segunda reunião em que conectamos os empreendedores com os mentores que podem ajudá-los. A partir daí eles podem criar uma agenda própria. O que estamos fazendo é gravando muitas dessas reuniões com nossos mentores e disponibilizando no YouTube para quem quiser assistir. Já tivemos nomes como Antônio Kândir, Bolívar Lamounier, Wilson Poit, Nizan Guanaes e Claudio Lottenberg.


De que forma as investidas que estão com vocês estão lidando com os efeitos da
pandemia?

Negócios de impacto social, ambiental e econômico tornam-se particularmente relevantes em momentos como o que estamos vivendo. Fizemos a ressalva: não é hora de ser oportunista e sim de cumprir o seu papel de impacto. Temos a Home agent, por exemplo, que entre seus principais serviços oferece tecnologia para call centers em que os operadores trabalham de casa. Com diversas empresas tendo de criar estrutura para o home office, essa tecnologia usada pelo Home agent acabou virando uma solução para outros negócios. Algo similar ocorreu com o Flores Online, que tinha uma rede de mais de 200 floristas espalhados pelo Brasil. A plataforma desenvolvida pela empresa transformou-se na Gingo, que hoje é oferecida de forma gratuita para comerciantes e lojistas de diversos segmentos para vender online durante o isolamento social.


Como você enxerga a forma como o Brasil está lidando com a pandemia?

Quando tudo começou no Brasil, ainda em março, achava que estamos em uma posição privilegiada já que poderíamos assistir e aprender com os impactos da Covid na Ásia e na Europa. Imaginava que o isolamento durasse até julho. Lamentavelmente, erramos na capacidade de estabelecer uma liderança capaz de fazer a condução absolutamente técnica num momento de pandemia. Ficamos nessa discussão estúpida de saúde versus economia e o resultado é que essa crise irá se arrastar por mais tempo do que poderia. Como eu disse outro dia, poderíamos ter amputado o dedinho do pé. Não seria bom, óbvio, mas resolveria o problema. Agora teremos de amputar o pé inteiro.


Você vê um efeito imediato em relação aos investidores internacionais com quem
você interage? Ou eles estão pensando mais no longo prazo?

O que preocupa mais o nosso investidor de fora é essencialmente o desempenho do negócio. Se ele vai conseguir sobreviver ou não a essa crise. E daí eu volto na parte que comentei sobre o desempenho das nossas investidas. Em geral, os investidores internacionais que lidamos têm a lente do impacto e percebem que países como o Brasil precisam muito mais desse tipo de negócio num cenário de crise. Na verdade, já vivíamos num mundo doente e que precisava de ajuda. De alguma forma esses empreendedores, suas empresas e a rede de mentores fazem parte de um ecossistema criado para curar parte dessas dores. Tanto as que já existiam como as que surgiram pós-isolamento.


Como e quando você enxerga uma retomada da economia?

Existe uma pressão natural das pessoas. Há um grupo grande que não tem a opção de ficar em casa pois precisa trabalhar. Há também o grupo de quem não aguenta ficar dentro de casa. É da natureza das pessoas. Minha visão particular é a de que as pessoas precisam e querem viver. Querem comer um pastel na feira, se abraçar, sentir cheiros etc. Elas topam tomar um risco para poder voltar a uma vida normal e isso vai impactar diretamente no comportamento do consumidor. Por tudo isso, acredito numa retomada forte, começando ainda tímida este ano e consolidando-se em 2021.

Fonte: ABVCAP News | Junho 2020


Comentários


Mapa do Site | Links Úteis | FAQ | Contato | Localização
ABVCAP RJ: Av. Rio Branco, 115, 20º andar, cj 2041, Centro - Rio de Janeiro - 20040-004 | Telefone: 55-21-3970-2432
ABVCAP SP: R. Pequetita nº 145, 8º andar, cj 81 - Vila Olimpia - São Paulo - 04552-060 | Telefone +55 11 3106-5025