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"É muito difícil inovar sem uma perspectiva de gênero", diz diretora da Mubadala Capital Adicionado em 25/03/2021
 
Alexandra de Haan diz que mapear é o primeiro passo para a busca de igualdade entre homens e mulheres nas indústrias de Private Equity e Venture Capital.

Uma semana após mais uma sessão de quimioterapia devido a um câncer no útero, a hoje executiva Alexandra de Haan, da Mubadala Capital, decidiu pegar um voo, às 6h, do Rio de Janeiro rumo a São Paulo. Superando o cansaço que sentia, fez as malas e partiu para a primeira reunião do Venture Women Brasil (VWB), entidade dedicada a articular mulheres da indústria de Venture Capital no país. Em 6 de outubro de 2016, quando entrou no escritório de advocacia Neolaw, sede do encontro, cerca de 20 colegas a recepcionaram. De cabelos raspados e com "alguns quilos a mais", devido ao tratamento, conduziu a reunião sentada. "O senso de cumprir com meu dever foi mais forte que o desconforto", contou, em entrevista à ABVCAP. 

Quase cinco anos depois muita coisa mudou na vida de Alexandra. Ela superou a doença, focou sua carreira em Private Equity e decidiu descontinuar o VWB, por dificuldades de ir com frequência à São Paulo, cidade que concentra a maior parte dessa indústria. Uma ambição, no entanto, não muda: a da se engajar por igualdade entre homens e mulheres nos mercados de Venture Capital e Private e Equity. "É muito difícil pensar em inovação sem uma perspectiva de gênero", defende. "Um perfil único, que parece e pensa igual, é menos propício a chegar a soluções criativas e inovadoras, ou novas ideias de investimentos."

Defensora da implementação de cotas para mulheres em gestoras, a holandesa, que chegou ao Brasil para empreender nos anos 2000, advoga que o primeiro passo para uma mudança em benefícios das mulheres é o mapeamento. "É preciso ter uma fotografia real do mercado, como já existe em relação a mulheres conselheiras em empresas de capital aberto", diz. A executiva também defende que a pauta da igualdade de gênero deve ser encampada por governos, empresas e sociedade civil -- mulheres e homens. Segundo ela, a situação melhorou no país nos últimos três anos, mas há um longo caminho a ser perseguido. Leia trechos da entrevista. 


Como avalia o lugar das mulheres nas indústrias de Private Equity e Venture Capital no Brasil? 

Comecei no mercado de Venture Capital no Brasil em 2009, e nessa época praticamente não havia mulheres em posições de liderança. Era um mercado novo para o país e a participação de mulheres era mais presente em funções de suporte e só havia alguns analistas nos times de investimento. No entanto, esse quadro está mudando, sobretudo nos últimos três anos, com uma presença maior de mulheres, que vem se articulado mais e até estão montando gestoras próprias. Com o passar dos anos, mais mulheres passaram a se arriscar, captar recursos, e adquirir mais experiência no setor. Esta transformação está ligada à mudança vista no mercado, que começou a exigir a presença de mulheres, tanto no mercado financeiro como em empresas de forma geral. 


A situação atual é mais favorável para elas atualmente do que em um passado recente, portanto? 

Os mercados de Private Equity e Venture Capital ainda estão muito dominados por homens. Estamos longe de um cenário ideal, em termos de igualdade de gênero. Mas, sobretudo em Venture Capital, há uma abertura crescente para a participação feminina. Vejo investidores cada vez mais aptos a apostar em gestoras e fundos liderados por mulheres. Apesar das conquistas recentes, é preciso considerar que a discussão avança lentamente. Não é um processo que vai acelerar sem a ajuda de governo, empresas e sociedade civil. Não depende só das mulheres, mas de todos. 


Pesquisa da Oliver Wyman de 2019 mostra que fundos de Private Equity e Venture Capital com mais diversidade de gênero têm performance até 20% superior. Por que isso acontece? 

Diversidade, no amplo sentido, traz novas perspectivas e ideias à mesa. Não apenas diversidade de gênero, que é essencial, mas também racial e socioeconômica, entre outros aspectos. Um perfil único, que parece e pensa igual, é menos propício a chegar a soluções criativas e inovadoras, ou novas ideias de investimentos. Diversidade enriquece o brainstorming. Para se chegar aos melhores resultados, é preciso ter diferentes olhares. No caso do Venture Capital, é muito difícil pensar em inovação sem uma perspectiva de gênero. Ela ficaria limitada para enxergar oportunidades. Diversidade cria mais inovação, ambientes de trabalho melhores e mais eficiência. 


Há outros estudos que mostrem que diversidade de gênero traz resultados potenciais às indústrias de Private Equity e Venture Capital?

Faltam dados sobre o tema. Sempre defendi a elaboração de pesquisas com um recorte de gênero nestes segmentos. Quando fundei o grupo Venture Women Brasil, hoje inativo, cheguei a fazer e publicar um diagnóstico do mercado, mas é uma exceção. O primeiro passo para a mudança é mapear. É preciso ter uma fotografia real do mercado, como já existe em relação a mulheres conselheiras em empresas de capital aberto. A ABVCAP, como instituição representante, tem o poder e a responsabilidade de fazer esse diagnóstico, pois dispõe de dados e de uma relação de confiança com as gestoras. Após o mapeamento, é preciso reforçar a articulação com as gestoras, promovendo a diversificação do seu quadro de funcionários. A ideia é buscar a entender quais são as barreiras atuais e propor alternativas para superá-las. 


Quais são as principais barreiras que dificultam uma maior participação feminina numa velocidade maior? 

Não existe uma resposta única ou simples. Aqui no Brasil, no caso do Venture Capital, no geral, trata-se de operações pequenas -- sócios que se juntam e começam a investir. A maioria são outrora empreendedores que foram bem sucedidos na venda de suas startups. E são, na maioria, homens. Por isso que é tão importante fomentar o crescimento de mulheres empreendedoras, porque isso reflete na outra ponta, ou seja, nas gestoras. Já os fundos de Private Equity são geralmente maiores, mais capitalizados, com forte apoio institucional. Neste caso não há tantas mulheres, pois a tendência é de buscar brasileiros que se especializam lá fora, mas estão abertos a voltar ao Brasil, e essas pessoas são ainda, majoritariamente, homens. Além disso, há pouco conhecimento sobre esses mercados entre os jovens entrando no mercado de trabalho. Em finanças, o padrão das mulheres ainda é entrar em bancos de investimentos. Hoje há mais indicações de mulheres e articulação, sobretudo em grupos nas redes sociais, mas este é um fenômeno relativamente recente. 


Como está o país em relação a outros pares globais, onde as indústrias de PE e VC têm maior peso? 

Há um contraste grande em relação aos seus vizinhos latino-americanos. Fiquei surpresa, positivamente, com o Brasil, que tem um conceito mais norte-americano. Mas, se compararmos com outros países da Europa, além de Estados Unidos, eles estão mais avançados na pauta de gênero. No caso europeu, os governos ativamente colocam cotas, forçando as empresas a diversificar. Nos EUA, idem, pois há uma consciência de que isso faz parte de uma conduta de boas práticas, com menos esforços do governo e mais do próprio mercado, especialmente investidores. Um dos pilares do conceito de ESG (Enviromental, Social and Gorvernance, ou ambiental, social e gorvernança) é a implementação da diversidade, inclusive de gênero, e o que acaba criando um filtro que privilegia gestoras com práticas mais avançadas. 


Defende a implementação de cotas para mulheres em gestoras do Brasil? 

Sou muito a favor de cotas. Fiquei bem decepcionada que o Brasil não adotou a medida. Não houve apoio suficiente, e um reforço da tese da meritocracia. Minha resposta é: as mulheres são muito capazes, há muitos exemplos. Porém se as portas não são abertas, é difícil disputar posições de igual para igual. Não discordo da ideia da meritocracia. Mas meu ponto é de que é preciso dar oportunidades, para que passemos a disputar determinadas vagas. Em processos de candidaturas, falta diversidade.


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