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Razões para otimismo num ano paradoxal | Entrevista com Martin Escobari - General Atlantic Adicionado em 16/12/2020
 
Em entrevista à ABCAP, Martin Escobari, chairman do comitê de investimentos global da General Atlantic, fala sobre seu otimismo com o mercado brasileiro de private equity, descreve que tipo de empresa está procurando agora e aponta a tendência que mais o empolga – a globalização dos unicórnios brasileiros.


Que leitura você faz de 2020? 

Foi um ano paradoxal. Muito difícil no aspecto pessoal, sem dúvida um dos piores anos das nossas vidas. Tem sido um período longo de preocupação, medo, distanciamento. Muitos perderam pessoas próximas. O paradoxo surge quando constatamos que essa dificuldade não teve impacto nos mercados de capitais, e no mercado brasileiro de private equity em especial. Calculamos que o volume comprometido tenha chegado a U$ 4 bilhões em 2020, um crescimento de 50%. E o período de quarentena acelerou tendências importantes, sobretudo em tecnologia. As empresas quebraram barreiras digitais na marra. Então o Brasil sai dessa crise muito mais produtivo e digital. É um absurdo termos um quarto da produtividade americana, e essa ruptura tecnológica que estamos vendo certamente vai diminuir essa diferença. O private equity, ao estimular novas empresas, impulsionar empreendedores que se tornam exemplo para uma nova geração, está tendo um papel fundamental na construção dessa nova economia. E isso só vai se aprofundar.

E como foi o ano para a General Atlantic no mercado brasileiro? 

Foi um ano recorde. Comprometemos U$ 500 milhões no Brasil em 2020, 40% a mais que ano passado. Na última década investimos cerca de U$ 3 bilhões no país. A indústria como um todo está descobrindo que o Brasil é, sim, um hub de tecnologia com capacidade de criar e exportar grandes empresas. Essa tem sido nossa prioridade ao investir em empresas como Gympass, Quinto Andar, Neon, Conexa, Hotmart e também em histórias mais antigas como XP e Arco.

A percepção sobre o Brasil está mudando?

É curioso que ao menos uma dúzia de investidores globais nos procuraram esse ano para entender o Brasil. Ainda existe esse fenômeno, do capital “turista”, que chega quando as coisas já estão melhorando. Mas quem faz private equity no Brasil há mais tempo sabe que o mais importante num país como o Brasil é investir de forma permanente, pensando no longo prazo, sem se assustar demais na crise e sem entusiasmar demais na euforia. O turista é o primeiro a ir embora e perde as oportunidades. Então eu digo para o pessoal que está interessado no Brasil agora: entre com o visto permanente, não com o de turista. 

A que você atribui esse interesse? 

O grande problema pra investidor estrangeiro é a fraqueza crônica do real. Requer esforço sobrenatural pra dar retorno de 25% em dólares investindo em uma moeda que perde 10% ao ano de forma tão consistente. E a boa notícia é que está com cara de que o futuro vai ser um pouco menos doloroso. A balança de pagamentos está boa, as tendências globais apontam um dólar mais fraco e, claro, estamos num ponto de partida altíssimo com o dólar a cinco reais. Isso dá um pouco de confiança numa maior estabilidade cambial. E temos o juro de 2% que é um catalisador, as pessoas estão começando a tomar o tipo de risco que impulsiona o empreendedorismo e crescimento das empresas.

Onde a GA vê as maiores oportunidades no mercado brasileiro? 

As três maiores oportunidades, para a GA, estão em três tendências de vinte anos. Um é inclusão financeira. Uma grande razão pra classe média asiática estar crescendo mais rápido foi a inclusão financeira que a gente ainda não fez no Brasil, onde 30% da população adulta não tem conta bancária e 50% não tem acesso a crédito formal. Isso não faz sentido. A gente tem de se esforçar para incluir esse pessoal no sistema financeiro. A XP está indo na classe mais alta, que já tem poupança, e o Neon indo na classe média “expandida”. Tem mais de um milhão de contas ativas no Neon, a base cresce 140% ao ano. Investimos na Acesso, empresa de biometria que ajuda a diminuir muito o índice de fraude em concessão de crédito.
Educação é outra área importante. No fundamental, a gente investiu na Arco, que tem um milhão e meio de alunos, cresce 25% ao ano e traz resultados tangíveis na preparação dos alunos. Na economia moderna, os empregos mudam a cada quatro anos. Não existe mais se formar e não se atualizar. A gente investiu na Hotmart, que é uma Shopify de produtos digitais. Ela ajuda pessoas a criar cursos, seja de culinária, contabilidade, programação. Está crescendo mais de 100% ao ano.
O terceiro foco nosso é healthcare tech. O problema da saúde brasileira é crônico. A gente gasta muito com pouco resultado e vai piorar com o envelhecimento. Os custos de saúde estão aumentando a cada ano. A tecnologia pode ajudar muito. O setor que mais rendeu globalmente pra gente esse ano foi health tech. Com inteligência artificial você consegue alocar recursos escassos muito bem. No Brasil, a Conexa Saúde, empresa de telemedicina, foi o começo, mas as empresas ainda não têm escala. Vai ter muita oportunidade. Se eu fosse empreendedor, começaria aqui.

Você é chairman do comitê de investimento, qual é a tendência global que mais te empolga?

A globalização do empreendedorismo. Há 10 anos, 80%+ dos unicórnios eram americanos, hoje é metade. Já temos uma dúzia de unicórnios brasileiros. Meu sonho é ajudar esses brasileiros a virarem globais. O Cesar Carvalho, fundador da Gympass, se mudou para Nova York e a empresa já está grande nos Estados Unidos. A Hotmart comprou um concorrente em Nova York. Vamos ter mais e mais desbravadores brasileiros que vão para o mundo, e ajudar a estimular isso é muito legal.


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