1- A Gávea já investiu cerca de 6 bilhões de dólares em mais de 50 empresas brasileiras. Qual será o efeito dessa crise para a economia real?
Devastador. Na verdade, terão sido duas crises enormes em 7 anos, com uma queda acumulada na renda per capita de cerca de 15%. Pensem bem: deveríamos ter crescido 15%. A renda estaria 35% mais alta. Afeta tudo, inclusive a cabeça das pessoas.
2- Como economista, gestor e presidente do Banco Central, você acompanhou, estudou e combateu muitas das crises brasileiras. Dessa vez é diferente? Em quê?
A pandemia gera muito mais incerteza e insegurança. Muda hábitos, impede o trabalho de muitos. O câmbio tem se depreciado. Tem a ver com confiança no Brasil e com o menor diferencial de juros.
3- O mundo viveu um longo período de prosperidade, e o Brasil ficou de fora. Olhando para a frente, o cenário econômico mundial tende a atrapalhar ou ajudar o Brasil?
No curto prazo pode atrapalhar. Menos integração global, falta de coordenação em grandes temas, como meio ambiente, e muito populismo e autoritarismo se espalhando. Já está nos afetando. Mas não tanto quanto nossas próprias escolhas.
4- Quais serão os vetores da retomada da economia brasileira?
O fim da pandemia, que de um jeito ou de outro ocorrerá, e a natureza do ciclo. Com um aspecto mais nosso: será preciso assegurar a saúde financeira do Estado, uma tarefa hercúlea.
5- Como você avalia o papel do private equity na economia brasileira?
Tem um papel relevante. Contribui capital, cultura de governança, acesso a ideias, gestão. Tem sido parte de uma revolução de governança corporativa, mercado de capitais, gestão de risco, cultura de negócios. Para a Gávea e para mim tem sido estimulante ver empresas em todo o país evoluindo, criando valor, lutando para crescer e, agora, para sobreviver. Diz o ditado que crise igual a oportunidade. É um jargão batido, mas verdadeiro.